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segunda-feira, 30 de junho de 2014

Lado B

Eu tenho dois lados meio aflorados em mim. Ok, não só dois, tenho infinitos lados; alguns se toleram, alguns se complementam e alguns se opõem. Frase brega de livro de autoajuda, né? Infelizmente, algumas vezes, só consigo me entender comigo mesma através dessas frases, e acho que, se você não partir pro lado mais filosófico da coisa, o ato de pensar sobre si mesma sempre vai parecer meio autoajuda. O que podemos fazer é tentar deixar o menos clichê possível.

Então, como eu estava dizendo, eu tenho dois lados meio aflorados em mim. Um deles ficou preso na adolescência, o que me faz gostar de autores que escrevem pra um público jovem (Meg Cabot, Thalita Rebouças, Bruna Vieira, John Green e por aí vai), cantores pop amados pelos teens (One Direction e Katy Perry, principalmente) e visitar blogs escritos mais para adolescentes. O "problema" é que eu sou formada em Letras e é quase impossível você falar pra alguém do seu meio de estudo e trabalho que gosta de Thalita Rebouças sem ter que lidar com uma risadinha abafada. A maioria das pessoas não considera isso "literatura". Bem, eu acho que é. Acho que pode se discutir – obviamente sem se chegar a lugar algum – se é uma literatura boa ou ruim, mas que é literatura, pra mim, é. Acho que os "letrados" deveriam pensar na relevância dela como formadora de leitores. A mulher tem mais de um milhão de livros vendidos num país que não tem incentivo adequado à leitura. São 1 milhão de crianças e adolescentes que podem ter tomado gosto pela leitura com um "Fala sério, mãe!", e sei que com várias das minhas primas foi assim, e o mesmo vale para "Crepúsculo" (que li, gostei na época, vi todos os filmes, mas do qual não sou fã). Ok, comecei a fazer uma defesa nada a ver com meu post. Voltemos aos meus lados. 

Meu outro lado aflorado é mais... por falta de palavra melhor, hipster. Não me considero, mas sou diariamente chamada de hipster por uma amiga. Ok, aceito a alcunha então. Meu lado que pira nas letras e melodias da Lana Del Rey, que lê Ginsberg e escreve poesia. Que é contra o consumo desenfreado, que pensa muito e surta com os pensamentos, que reflete sobre a mídia, sobre o que tem de errado com o mundo... E por aí vai.

Não quero renunciar nenhum dos dois lados. Quero viver em paz com os dois (e com os outros também). Pra me organizar melhor, tirarei minhas poesias daqui e colocarei em algum outro blog, porque, sei lá, acho que não combina aqui. Acho desinteressante pros leitores que eu não tenho. Sei que poesia não é um assunto tão amado assim, e decidi deixar essa parte do meu lado hipster pra lá. O resto do lado hipster e meu lado adolescente ainda poderão ser encontrados aqui.

Eu gosto muito de falar com e para adolescentes. Acho que adolescentes têm uma liberdade para serem quem eles querem ser que a maioria dos adultos não têm. Eles são escrachadamente engraçados e não ligam muito pro que você pensa deles – e isso é lindo. Ou talvez essa seja apenas uma visão romanceada que tenho baseada numa lembrança não confiável de mim mesma enquanto adolescente. Sei lá se vou começar a escrever aqui mais para esse público. Adoraria fazer isso, mas às vezes não vem a inspiração necessária. Well, let's just go with the flow.

 E juro que tô tentando melhorar minha linearidade de pensamentos enquanto escrevo.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Sobre contradições, consumismo e o que há de errado com o mundo

Uma das mais fascinantes e desesperadoras características do ser humano é a sua complexidade, e, consequentemente, suas eventuais paradoxalidades. Uma das coisas na minha cabeça que sempre esteve lá, mas começou a me incomodar mais nos últimos meses é justamente uma contradição que parece completamente inconciliável – pelo menos pra mim. Tão inconciliável que não faço ideia se chegarei a algum lugar com esse texto que começo a escrever agora ou se isso será apenas um devaneio em círculos. Bem, como disse Clarice, perder-se também é caminho. 

Qual é a contradição? Resumidamente, me render ao meu lado consumidor consumista ou me forçar a olhar criticamente as relações de consumo. Pode parecer uma discussão sem importância ou ultrapassada, mas, garanto, não é. 

Não sei exatamente o porquê, mas gosto de colecionar coisas. Livros, que já chegam aos 400 num quarto relativamente pequeno, e continuam a fazer mitose incessantemente; bottons, uns 30 guardados numa gavetinha porque não há bolsa o suficiente para eles; Melissas, que já vendi umas 10, tenho 2 disponíveis para vender/trocar e ainda tenho umas 20 no armário; perfumes, que está modesta por enquanto e pretendo que continue assim; DVDs, que estão chegando perto dos 70 volumes espremidos na minha estante. E não, não estou nem perto de ser rhyca. Depois de um certo tempo, coleções se tornam obsessões. Fui realmente obcecada por Melissas durante um tempo, viciada mesmo, de entrar em vários sites todo dia, querer sempre comprar mais, gastar horas e horas no Facebook em grupos destinados à venda e à troca de Melissas... Gradativamente, fui deixando de lado, e nem sei bem como.

Sei lá, estou sempre me obcecando e me viciando em coisas, não em atitudes. Coisas são mais fáceis. Dão uma ilusão de falsa necessidade preenchida. Como li em algum lugar, trabalhamos a nossa vida inteira para ganhar dinheiro para comprar coisas de que não precisamos para impressionar pessoas de que não gostamos. E é justamente isso que me incomoda tanto nessas coleções – não as de livros e DVDs, obviamente, pois essas de fato acrescentam alguma coisa. Mas o resto parece que é só uma exibição sem propósito. Pensamos que é por que gostamos, mas do que realmente gostamos e o que é só lavagem cerebral imposta para que nós possamos gostar e fazer vender como água? Necessidades são criadas, o que pode ser absurdo, se você parar pra pensar. Ar-condicionado e chuveiro são invenções criadas para resolver necessidades, mas às vezes que algumas necessidades são criadas para justificar invenções (que é o que penso quando vejo todas essas novidades cosméticas por aí).

Vivemos em um mundo completamente controlado pelas relações comerciais. Você é colocado(a) numa escola quando pequeno não para aprender a ser uma criatura pensante. Você é enviado para 20 anos de estudo para fazer uma faculdade e ter um melhor lugar no mercado de trabalho. E o que "ter um melhor lugar no mercado de trabalho" quer dizer? Ganhar mais dinheiro. Não necessariamente fazer o que você gosta, mas necessariamente ganhar mais dinheiro.

Eu gosto de dinheiro. Preciso de dinheiro. Precisamos pagar contas, comprar comida, ir ao cinema, ir ao teatro, pegar ônibus, etc etc etc. Mas tento sempre lembrar que é um absurdo sem tamanho – por mais que isso seja clichê – valorizar mais as coisas, ainda que pequenas, que o dinheiro traz. Não digo que é pra todo mundo parar de gastar com coisas que não sejam essenciais. Mas acho que as relações comerciais deveriam ser postas em segundo plano. Uma coisa que sempre mexeu muito comigo é a questão dos moradores de rua. São seres humanos, pessoas que sentem o que eu sinto, que não têm o que comer, onde tomar banho, onde morar. Não, não é sensacionalismo, moralismo, sentimentalismo nem nenhum outro "ismo". É verdade. É uma pessoa que deveria estar recebendo nossa atenção – e não uma promoção, não a abertura de uma loja, não o BBB, não a Copa.

Estou no meio da leitura de Brave New World (Admirável Mundo Novo) e uma das coisas que mais me chamou a atenção é que o valor de uma pessoa está diretamente ligado ao seu status social e, consequentemente, ao quão importante você é para a sociedade (os professores, infelizmente, estão aí para provar que toda regra tem uma exceção). É algo tão óbvio e presente que raramente pensamos mais sobre isso: para a nossa sociedade, velada ou desveladamente, um mendigo tem menos valor que um engenheiro – porque o engenheiro está contribuindo para a sociedade e o mendigo não.

Acho que não cheguei a lugar algum, mas tudo bem. Na faculdade aprendi que, muitas vezes, levantar ideias é mais importante que chegar a alguma conclusão. Anyway. Para quem quiser pensar mais sobre isso, recomendo o ensaio "O elogio ao ócio", do Bertrand Russel, e o poema "Uivo/Howl", já citado aqui no blog. Há também um vídeo muito legal, já antigo, chamado "A história das coisas" que vale a pena ver.

Pensar também sempre ajuda ;)