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sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Eu e a auto-ajuda

Se você perguntar, uns vão ficar envergonhados e vão dizer que não, não têm preconceito; outros vão dizer na cara de pau que odeiam, que não deveria existir, que é um desperdício e tal. Livros de auto-ajuda são um tema polêmico, principalmente entre pessoas que estudam literatura academicamente.

Eu tive meus preconceitos com livros de auto-ajuda sim. Já disse que são todos iguais, que dão conselhos inatingíveis e tal. Depois, quando estive na m., li alguns. Alguns eu gostei muito, como o francês "La Vie En Rose" (traduzido como "A Vida É Bela"), outros eu gostei na época e hoje vejo como um machismo descarado fantasiado pobremente de feminismo (tipo o "Por que os homens gostam das mulheres poderosas?"). Li coisas que talvez sejam consideradas mais crônicas que auto-ajuda, tipo livros da Martha Medeiros e da Bruna Vieira. E, em todos os livros, ficava com uma sensação de "realmente, é tão simples descomplicar a vida. Vou ser menos preocupada/orgulhosa/problemática". Isso, é claro, só até eu fechar o livro e voltar à "realidade".

Eu não sei se a vida é de fato fácil de descomplicar ou se os escritores só fazem parecer assim. Juro que não faço ideia. Mas tem uma característica que eu gosto muito nesses livros: eles nos deixam mais leves, de bem com a vida, com o sentimento de que tudo pode mudar e ser melhor. E, bem, não dá pra mudar tudo, mas algumas coisas podem. Às vezes, a gente não quer uma solução misteriosa e mágica pra todos os nossos problemas, só precisamos de um autor pra tirar o peso das nossas costas um pouco ;)

terça-feira, 14 de outubro de 2014

No momento, eu queria querer.

Queria querer qualquer coisa. Ou melhor, queria querer algo que pudesse ter de verdade.

Eu queria um cachorro, uma barra de chocolate, uma tattoo, um piercing. Queria um estilo mais sofisticado, cabelos coloridos, andar de avião e um piquenique num dia ensolarado. Queria escrever um livro, ler as muitas dezenas que me aguardam aqui, ver um filme que vai mudar a minha vida pra sempre. Queria que não fosse tão tarde, pra eu poder curar essa inquietude dando um passeio de ônibus. Queria uma plenitude de alguma coisa, queria aprovação, queria fazer algo grande. Às vezes, eu só queria mudar o mundo; às vezes, eu só queria você.

segunda-feira, 30 de junho de 2014

Lado B

Eu tenho dois lados meio aflorados em mim. Ok, não só dois, tenho infinitos lados; alguns se toleram, alguns se complementam e alguns se opõem. Frase brega de livro de autoajuda, né? Infelizmente, algumas vezes, só consigo me entender comigo mesma através dessas frases, e acho que, se você não partir pro lado mais filosófico da coisa, o ato de pensar sobre si mesma sempre vai parecer meio autoajuda. O que podemos fazer é tentar deixar o menos clichê possível.

Então, como eu estava dizendo, eu tenho dois lados meio aflorados em mim. Um deles ficou preso na adolescência, o que me faz gostar de autores que escrevem pra um público jovem (Meg Cabot, Thalita Rebouças, Bruna Vieira, John Green e por aí vai), cantores pop amados pelos teens (One Direction e Katy Perry, principalmente) e visitar blogs escritos mais para adolescentes. O "problema" é que eu sou formada em Letras e é quase impossível você falar pra alguém do seu meio de estudo e trabalho que gosta de Thalita Rebouças sem ter que lidar com uma risadinha abafada. A maioria das pessoas não considera isso "literatura". Bem, eu acho que é. Acho que pode se discutir – obviamente sem se chegar a lugar algum – se é uma literatura boa ou ruim, mas que é literatura, pra mim, é. Acho que os "letrados" deveriam pensar na relevância dela como formadora de leitores. A mulher tem mais de um milhão de livros vendidos num país que não tem incentivo adequado à leitura. São 1 milhão de crianças e adolescentes que podem ter tomado gosto pela leitura com um "Fala sério, mãe!", e sei que com várias das minhas primas foi assim, e o mesmo vale para "Crepúsculo" (que li, gostei na época, vi todos os filmes, mas do qual não sou fã). Ok, comecei a fazer uma defesa nada a ver com meu post. Voltemos aos meus lados. 

Meu outro lado aflorado é mais... por falta de palavra melhor, hipster. Não me considero, mas sou diariamente chamada de hipster por uma amiga. Ok, aceito a alcunha então. Meu lado que pira nas letras e melodias da Lana Del Rey, que lê Ginsberg e escreve poesia. Que é contra o consumo desenfreado, que pensa muito e surta com os pensamentos, que reflete sobre a mídia, sobre o que tem de errado com o mundo... E por aí vai.

Não quero renunciar nenhum dos dois lados. Quero viver em paz com os dois (e com os outros também). Pra me organizar melhor, tirarei minhas poesias daqui e colocarei em algum outro blog, porque, sei lá, acho que não combina aqui. Acho desinteressante pros leitores que eu não tenho. Sei que poesia não é um assunto tão amado assim, e decidi deixar essa parte do meu lado hipster pra lá. O resto do lado hipster e meu lado adolescente ainda poderão ser encontrados aqui.

Eu gosto muito de falar com e para adolescentes. Acho que adolescentes têm uma liberdade para serem quem eles querem ser que a maioria dos adultos não têm. Eles são escrachadamente engraçados e não ligam muito pro que você pensa deles – e isso é lindo. Ou talvez essa seja apenas uma visão romanceada que tenho baseada numa lembrança não confiável de mim mesma enquanto adolescente. Sei lá se vou começar a escrever aqui mais para esse público. Adoraria fazer isso, mas às vezes não vem a inspiração necessária. Well, let's just go with the flow.

 E juro que tô tentando melhorar minha linearidade de pensamentos enquanto escrevo.

quarta-feira, 18 de junho de 2014

Sobre contradições, consumismo e o que há de errado com o mundo

Uma das mais fascinantes e desesperadoras características do ser humano é a sua complexidade, e, consequentemente, suas eventuais paradoxalidades. Uma das coisas na minha cabeça que sempre esteve lá, mas começou a me incomodar mais nos últimos meses é justamente uma contradição que parece completamente inconciliável – pelo menos pra mim. Tão inconciliável que não faço ideia se chegarei a algum lugar com esse texto que começo a escrever agora ou se isso será apenas um devaneio em círculos. Bem, como disse Clarice, perder-se também é caminho. 

Qual é a contradição? Resumidamente, me render ao meu lado consumidor consumista ou me forçar a olhar criticamente as relações de consumo. Pode parecer uma discussão sem importância ou ultrapassada, mas, garanto, não é. 

Não sei exatamente o porquê, mas gosto de colecionar coisas. Livros, que já chegam aos 400 num quarto relativamente pequeno, e continuam a fazer mitose incessantemente; bottons, uns 30 guardados numa gavetinha porque não há bolsa o suficiente para eles; Melissas, que já vendi umas 10, tenho 2 disponíveis para vender/trocar e ainda tenho umas 20 no armário; perfumes, que está modesta por enquanto e pretendo que continue assim; DVDs, que estão chegando perto dos 70 volumes espremidos na minha estante. E não, não estou nem perto de ser rhyca. Depois de um certo tempo, coleções se tornam obsessões. Fui realmente obcecada por Melissas durante um tempo, viciada mesmo, de entrar em vários sites todo dia, querer sempre comprar mais, gastar horas e horas no Facebook em grupos destinados à venda e à troca de Melissas... Gradativamente, fui deixando de lado, e nem sei bem como.

Sei lá, estou sempre me obcecando e me viciando em coisas, não em atitudes. Coisas são mais fáceis. Dão uma ilusão de falsa necessidade preenchida. Como li em algum lugar, trabalhamos a nossa vida inteira para ganhar dinheiro para comprar coisas de que não precisamos para impressionar pessoas de que não gostamos. E é justamente isso que me incomoda tanto nessas coleções – não as de livros e DVDs, obviamente, pois essas de fato acrescentam alguma coisa. Mas o resto parece que é só uma exibição sem propósito. Pensamos que é por que gostamos, mas do que realmente gostamos e o que é só lavagem cerebral imposta para que nós possamos gostar e fazer vender como água? Necessidades são criadas, o que pode ser absurdo, se você parar pra pensar. Ar-condicionado e chuveiro são invenções criadas para resolver necessidades, mas às vezes que algumas necessidades são criadas para justificar invenções (que é o que penso quando vejo todas essas novidades cosméticas por aí).

Vivemos em um mundo completamente controlado pelas relações comerciais. Você é colocado(a) numa escola quando pequeno não para aprender a ser uma criatura pensante. Você é enviado para 20 anos de estudo para fazer uma faculdade e ter um melhor lugar no mercado de trabalho. E o que "ter um melhor lugar no mercado de trabalho" quer dizer? Ganhar mais dinheiro. Não necessariamente fazer o que você gosta, mas necessariamente ganhar mais dinheiro.

Eu gosto de dinheiro. Preciso de dinheiro. Precisamos pagar contas, comprar comida, ir ao cinema, ir ao teatro, pegar ônibus, etc etc etc. Mas tento sempre lembrar que é um absurdo sem tamanho – por mais que isso seja clichê – valorizar mais as coisas, ainda que pequenas, que o dinheiro traz. Não digo que é pra todo mundo parar de gastar com coisas que não sejam essenciais. Mas acho que as relações comerciais deveriam ser postas em segundo plano. Uma coisa que sempre mexeu muito comigo é a questão dos moradores de rua. São seres humanos, pessoas que sentem o que eu sinto, que não têm o que comer, onde tomar banho, onde morar. Não, não é sensacionalismo, moralismo, sentimentalismo nem nenhum outro "ismo". É verdade. É uma pessoa que deveria estar recebendo nossa atenção – e não uma promoção, não a abertura de uma loja, não o BBB, não a Copa.

Estou no meio da leitura de Brave New World (Admirável Mundo Novo) e uma das coisas que mais me chamou a atenção é que o valor de uma pessoa está diretamente ligado ao seu status social e, consequentemente, ao quão importante você é para a sociedade (os professores, infelizmente, estão aí para provar que toda regra tem uma exceção). É algo tão óbvio e presente que raramente pensamos mais sobre isso: para a nossa sociedade, velada ou desveladamente, um mendigo tem menos valor que um engenheiro – porque o engenheiro está contribuindo para a sociedade e o mendigo não.

Acho que não cheguei a lugar algum, mas tudo bem. Na faculdade aprendi que, muitas vezes, levantar ideias é mais importante que chegar a alguma conclusão. Anyway. Para quem quiser pensar mais sobre isso, recomendo o ensaio "O elogio ao ócio", do Bertrand Russel, e o poema "Uivo/Howl", já citado aqui no blog. Há também um vídeo muito legal, já antigo, chamado "A história das coisas" que vale a pena ver.

Pensar também sempre ajuda ;)

domingo, 25 de maio de 2014

Dress like you have something to say

Eu sempre gostei de moda, mas sempre me senti um tiquinho mal por isso. Vou tentar explicar. Nunca liguei pra alta costura, revistas tipo Vogue e sempre preferi comprar livros e DVDs a roupas. Obviamente, também não há nada de errado com ligar para alta costura, Vogue e comprar mais roupas que livros. Contanto que se mantenha uma consciência crítica e que ninguém saia machucado, sou adepta do "pode-tudo". A questão é que a minha consciência crítica me alfinetava a cada vez que eu gastava tempo demais em blogs de moda e passeando por shoppings. Ouvia gritos de "alienada" e "fútil" pela minha própria cabeça. Então, depois de ler esse texto aqui, da fofa revista Capitolina tive uma série de epifanias e fui escrever o que já estava numa gaveta mental há tempos.

Sempre me vesti para mim, e nunca tive problemas em usar alguma coisa e ter medo de parecer "ridícula". Minha combinação preferida é saia skater (que eu só descobri que tinha esse nome recentemente. Pra mim, qualquer sainha minimamente rodada era "estilo-menina-de-colégio-normal"), meia-calça, Melissa e camiseta com estampa divertida. Jeans, camiseta e All Star quando tô com preguiça. Mesmo nos dias mais básicos, eu nunca estou sem alguma peça diferente. Pode ser uma Melissa com a estampa da Malévola (ou da Bruxa Má da Branca de Neve, ou da Madrasta da Cinderela), uma bolsa com o desenho de uma coruja, um All Star com estampa de donuts ou uma camiseta com os dizeres "Alguns infinitos são maiores que outros".

De jeito NENHUM eu acho que todos tenham que se vestir assim, de forma diferente. Mas eu acho sim que todos deveriam se sentir livres para vestirem o que bem quiserem, fora do que é imposto pelos padrões. Eu ainda tenho que melhorar muito nesse aspecto, pois tremo a cada vez que vejo alguém de pochete na rua, ou com aqueles shorts que deixam metade da bunda de fora. Sei lá, não curto muito estar andando e OPS, TEM UMA BUNDA NA MINHA FRENTE. Enfim. A questão é que o que o outro veste não é da minha conta e não vai fazer a menor diferença na minha vida. Então por que me incomodar com uma pochete? Ou com uma bunda? (Pode parecer confuso eu reclamar de uma coisa e reafirmá-la logo em seguida, mas isso é mesmo um exercício que temos que fazer. Primeiramente, sermos capazes de criticar o nosso modo de pensar. Em segundo, pararmos de nos importar com as roupas de uma pessoa totalmente aleatória na rua, que você nunca viu e que nunca virá de novo.)

Eu sei que, ao se vestir, cada um automaticamente está dizendo alguma coisa através das roupas, mas eu gosto de dizer conscientemente, com um propósito. O que eu digo? "Seus padrões de estilo não conseguiram me enquadrar, bitches!" Ou algo assim ;) Acreditem: na maioria das vezes, é muito mais divertido ser contra a corrente.

domingo, 4 de maio de 2014

Um estranho no ninho

Pode ler tranquilx! Sem spoilers :)

Já estava pra ver "Um estranho no ninho" (One flew over the cuckoo's nest) há muito tempo, praticamente desde os meus 15 anos. Nessa época, no auge da minha paixão pela Courtney Love, eu procurei para ver todos os filmes que ela tinha feito e me deparei com "O povo contra Larry Flint", dirigido por Milos Forman. O filme é genial, a atuação dela e do Woody Harrelson são geniais e a direção de Forman é genial. Depois de tanta genialidade, fui procurar outros trabalhos do diretor e me interessei por "Um estranho no ninho". Não sei exatamente por que eu demorei tanto pra ver, mas finalmente consegui assistir nessa semana \o/

O filme foi baseado no romance homônimo de Ken Kesey, um escritor americano que, segundo ele mesmo, era velho demais pra ser beat e novo demais pra ser hippie. Publicado em 62, Forman transformou em filme em 75, ganhando os cinco prêmios mais importantes no Oscar: melhor filme, diretor, ator (Jack Nicholson), atriz (Louise Fletcher) e roteiro adaptado.


Tendo o Jack Nicholson, já é implícito que é um filme sobre loucura – o cara interpreta um maluco como ninguém. Além dele, o filme conta ainda com Danny DeVito, Christopher Lloyd (em seu primeiro papel), Scatman Crothers (o cara que ajuda Danny em "O Iluminado") e Brad Dourif (ator que faz a voz do Chucky, o boneco assassino). 



Vamos à história: R. P. McMurphy (Nicholson), supostamente fingindo loucura para escapar da prisão, vai parar num hospital psiquiátrico. Irritado com o controle excessivo sofrido pelos pacientes, personificado na figura da enfermeira Ratched, e conscientemente desejando se provar louco, Mac vai aos poucos detonando a "ordem" e o controle impostos aos pacientes. Em resumo, ele traz um pouco de vida à apatia do cotidiano no hospital. Ao questionar as rígidas regras do lugar, Mac faz com que os outros pacientes comecem a pensar e a se rebelar também. O curioso é que eles só recebem um tratamento médico mais violento quando questionam as autoridades.

O filme todo gira em torno de questionamentos. Quem consegue dizer com clareza qual é o limite entre a loucura e a sanidade? Quem pode julgar o outro de louco? O que é a loucura? Qual é o método mais eficaz de tratar a loucura? O diretor no entanto não responde a nenhuma dessas perguntas: o debate que o filme traz é mais importante em si. Questões como a lobotomia, os maus tratos aos pacientes e o despreparo dos enfermeiros e médicos pra cuidar dos internos também são levantadas ao longo do filme. É verdade que o filme foi lançado há praticamente 40 anos e que muitas das técnicas usadas nos pacientes hoje em dia são quase que unanimemente rejeitadas. No entanto, "Um estranho no ninho" ainda serve como uma ótima base de reflexão sobre o tema da loucura.

Para quem se interessar, aqui está o trailer (não consegui encontrar com legendas, I'm sorry!):


quinta-feira, 1 de maio de 2014

Allen Ginsberg


Quando eu estava no 3º ano do ensino médio, meu professor de literatura passou um filme do Buñuel para vermos, provalvemente “Um cão Andaluz”. Obviamente nós, jovenzinhos de inteligência mediana entre 16 e 18 anos, não entendemos patavinas. Quando o professor perguntou se eu tinha gostado do filme, respondi que não tinha entendido, e que não tinha como gostar de algo que eu não tinha entendido. Hoje, 5 anos depois, vejo que eu estava enganada. Tem sim como gostar de algo que não se entende, e a minha prova pessoal disso é Allen Ginsberg.




Ginsberg é um poeta da beat generation, mais famoso pelo poema “Howl” – “Uivo” (que começa com o verso “I saw the best minds of my generation destroyed by madness” – “Eu vi as melhores mentes da minha geração serem destruídas pela loucura”. Lana del Rey usa trechos desse poema no seu vídeo “Tropico”). Acho – e isso é inteiramente uma impressão que eu tenho – que o Ginsberg é um pouco ofuscado pelos outros expoentes da beat generation, Jack Kerouac, William Burroughs e Charles Bukowski - sendo que o Bukowski nem é “oficialmente” considerado "membro" da BG. Enfim.



Acho que só o Ginsberg entendeu 100% de Howl, se é que ele entendeu. Mesmo entendendo apenas palavras e frases esparsas, esse é, sem dúvida, um dos meus poemas preferidos. É como ouvir uma música num idioma que você não domina, por exemplo. Você sente algum clima, algum “mood”. Sabe aquela coisa – brega, eu sei – de que você tem que sentir a poesia? É isso que sinto com Howl: eu sinto Howl. Parece que o poema fala com uma parte de mim que é além da compreensão racional, além do que é decodificado.

Howl tem uma estrutura paralelística, com versos se referindo sempre ao mesmo sujeito – the best minds of his generation –, o que dá uma ideia de continuidade e unidade. Em outras palavras, Howl faz com que tudo de que fala seja relacionado: loucura, sobrevidas, jazz, pessoas vivendo à margem, pessoas vivendo no sistema, o sistema em si (personificado como Moloch, uma figura maligna), suicídio, máquinas, a noite, luzes (sou meio obcecada com a arte falando de luzes. A supracitada Lana também é ;) Talvez uma das minhas frases preferidas ever seja um trecho de “There is a light that never goes out”, do The Smiths, que diz “Take me out tonight, ‘cause I want to see people and I want to see lights”). Howl fala de um “lado B” de tudo.

Ginsberg ficou 8 meses numa instituição psiquiátrica, aos 21 anos, onde conheceu Carl Solomon (para quem dedica o poema). Ele diz que, ao contrário de Solomon, não recebeu terapia de choque ou remédios porque ele prometeu ao médico responsável que ele “se tornaria heterossexual”. A relação de Ginsberg com a loucura vai ainda mais fundo: ele viu sua mãe entrar e sair de instituições psiquiátricas desde que tinha 6 anos de idade.

Tirando uma selfie hipster no espelho ;)
Johnny Depp e Ginsberg, 1994

Peter Orlovsky e Ginsberg. Os dois ficaram juntos por mais de 30 anos.


Para quem se interessar pelo poeta ou pelo poema, há um filme chamado “Howl”, em que James Franco interpreta Ginsberg (muito difícil de encontrar, mas vale a pena tentar), e há também "Kill your darlings", em que ninguém menos que Daniel Radcliffe – sim, leitorxs, o Harry Potter – interpreta Ginsberg. Procure também o curta em animação que é parte do filme com Franco, e a graphic novel, que já foi traduzida e é bem fácil de encontrar. Seus poemas estão praticamente todos na internet e, se vocês quiserem ler "Howl", é só clicar aqui.

Para fechar, minha frase preferida de Ginsberg:

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Microconto #2

Era pobre. Uma espécie de Macabéa gordinha. Tirou um batom cintilante da bolsa. Deve ter custado umenoventenove. A tampa era de plástico vagabundo. O batom também era vagabundo. Ela também era vagabunda. Passou o batom desajeitadamente. Logo se via que ela não tinha prática. Parecia uma criança. O batom não deslizava. Agarrava nos lábios ásperos e ressequidos. Terminou. Esfregou os lábios um no outro. Sorriu um sorriso bobo e inocente. Não estava bonita. 

domingo, 27 de abril de 2014

sábado, 26 de abril de 2014

O globo de neve

Olhava para o nada do lado de fora da janela, olhava para o tempo surpreendentemente fechado. Desviou seus olhos lentamente das folhas das poucas árvores que balançavam perto dos postes e, cantando uma música em voz fraca - já estava cantando antes? -, olhou a velha garrafa d’água e a máquina de escrever verde, em que nunca conseguira escrever nada. Então olhou os globos de neve. Primeiro, viu o de Veneza. Depois, Paris. Rio. San Diego. Nova York. Rapidamente procurou os outros dois com um sobressalto, como se tivesse os perdido. Aliviada, viu que os dois continuavam onde sempre estiveram. Disney e Madrid.

Não comprara nenhum daqueles bibelôs de que tanto gostava. Foram presentes de amigos e familiares. Viu o Cristo dentro de sua redoma. A torre Eiffel ao lado da Estátua da Liberdade. Uma gôndola e um casal apaixonado. O Mickey vestido de “Aprendiz de Feiticeiro”. Todos lindamente aprisionados em suas cápsulas perpétuas. Sendo afogados pela mesma água parada há anos.

A chuva agora agitava as árvores e cuspia nas janelas. De repente, sentiu-se bem por estar seca e protegida. Com a mesma rapidez, sentiu-se igualmente mal. Queria sentir o vento e queria que a chuva cuspisse na sua cara. Engraçado esse ímpeto, ela não era assim. Mas foi. Nem calçou os chinelos. Foi do jeito que estava. Antes de ir, no entanto, deixou sua mão libertar os jovens apaixonados da prisão de vidro.

A chuva entrando pela janela aberta aumentava a poça em que a gôndola finalmente velejava.

terça-feira, 22 de abril de 2014

Mickey vai à guerra - A influência da Disney na 2a Guerra Mundial

Obs1: o post tá grande, mas vale a pena ;)
Obs2: não consegui achar todos os vídeos com legendas, mas a maioria deles é tranquila de entender :) Os nomes dos curtas são links para o YouTube.
Obs3: Este post é adaptado de um trabalho que fiz para a faculdade, por isso a extensão.

Todos sabemos que um evento político, social e econômico da dimensão de uma guerra mundial afeta  a maior parte da produção cultural dos países envolvidos, ainda que indiretamente. É claro que não é apenas a dita "alta cultura" que se engaja; as indústrias cinematográfica e fonográfica, por exemplo, também são altamente influenciadas por guerras. O que poucos sabem, no entanto, é que a Disney - sim, leitor, a Disney do Mickey e das princesas - não só foi altamente influenciada pela 2a Guerra Mundial como também produziu inúmeros curtas animados como propaganda de guerra.



Uma das influências sofridas foi uma questão técnica: o formato das animações produzidas pela empresa entre 1940 e 1949. Dos 10 filmes lançados, 7 são coletâneas de curtas. A esse fato existem duas possíveis explicações, sendo a primeira delas econômica: como os filmes não podiam ser exibidos na Europa devido à guerra, perdiam muito de sua bilheteria. Apesar de a Disney ainda ter feito outros três longas nesse período (Pinóquio, de 1940, Dumbo, de 41, e Bambi, de 42), possíveis de serem produzidos devido ao grande lucro gerado por Branca de Neve e os Sete Anões (1937), no período mais crítico da guerra a empresa só produziu curtas (de 42 a 45).

A outra razão provável para a produção de curtas foi a dedicação quase integral da Disney a criar uma vasta propaganda de guerra para o exército e para a população civil, contando com mais de 200 curtas encomendados pelo governo americano a partir de 1941 - ano em que os EUA entram na guerra (o que acontece logo depois do lançamento de Dumbo). Assim, as outras produções recebiam menos investimento no geral, e, por serem mais fáceis de produzir, curtas seriam a produção mais adequada aos tempos de guerra. No período pós-guerra, a razão por não optarem por longas foi uma crise financeira que acometeu os estúdios, já que a propaganda, principal produção durante a guerra, não gerava lucros suficientes. Um projeto de curta feito por Savador Dalí em parceria com o próprio Walt Disney teve que ser adiado justamente por causa da crise, que só terminou completamente em 1950 com o lançamento de Cinderela.

A propaganda de guerra em si é escancarada. Parte dos filmes começa e termina da mesma forma: no início, há personagens da Disney (Donald, Minnie, os sete anões e até Pinóquio) incentivando a população a fazer algo e, no final, são mostradas cenas de guerra, em animação, sempre com algum navio, avião ou tanque nazista sendo explodido por tropas estadunidenses. Apesar deste padrão, cada curta tem suas particularidades e elas devem ser exploradas.



The New Spirit, de 42, protagonizado por Donald, traz o pato ouvindo um aviso pelo rádio: “Nossa costa foi atacada. Seu país inteiro está se mobilizando para a guerra. Seu país precisa de você. Você é um americano patriota? Você fará a sua parte? Então há algo importante que você pode fazer. Você não ganhará uma medalha por fazer isso. Talvez seja um sacrifício da sua parte, mas será uma ajuda vital para o seu país: seu imposto de renda. (...) Seu país precisa de impostos para armas, impostos para navios, impostos para a democracia, impostos para vencer o Eixo!” (taxes to beat the Axis). Esse discurso de coerção pode ser visto, de certa forma, em quase todos os curtas lançados no período: o patriotismo e a democracia como motivação para ajudar o país na guerra são temas recorrentes nesses filmes.



No ano seguinte, um novo curta sobre os impostos foi lançado, The spirit of 43, que tinha o mesmo final de The New Spirit, mas com o início um pouco diferente. Desta vez, Donald está em dúvida se guarda ou gasta seu pagamento, e uma versão mais rica e erudita de si mesmo, com a bandeira americana ao fundo, surge para convencê-lo a poupar, enquanto uma representação pobre e “caipira”, fantasiada de Hitler, o influencia a gastar. O narrador diz: “Graças a Hitler e Hirohito, os impostos estão mais altos que nunca antes. (...) Cada centavo que você gasta com algo que não precisa é um dólar com o qual você ajuda o Eixo.” Como se pode observar, a cada ano que se passava, as propagandas ficavam mais explícitas e agressivas.

Outro curta destinado à população civil, especificamente às “housewives of America”, Out of the frying pan into the firing line traz Minnie cozinhando e, na hora de jogar a gordura da frigideira para Pluto comer, o rádio, como principal meio de comunicação da época, diz para ela guardar a gordura e entregar em algum posto de coleta “patrioticamente cooperativo”. A razão: a gordura seria transformada em glicerina, que se transformaria em explosivos.

Alguns curtas, como All Together e Seven Wise Dwarfs, mostram os personagens incentivando a população a fazer doações a favor das forças armadas e “investir na vitória”. Quem doasse, receberia um certificado, produzido pela Disney, chamado “war saving certificate”. Nos curtas, frases como “keep your money fighting” ou “buy more and more war savings certificates” ou, ainda, “you serve by saving, you save by serving” aparecem o tempo todo ao redor dos personagens.




Reason and Emotion, de 1943, mostra que a razão deve ser sempre privilegiada, e que Hitler controla a população alemã através das emoções: medo, simpatia, orgulho e ódio “pelo modo de vida livre e democrático”. O que muitos estadunidenses atingidos pela propaganda da Disney não perceberam é que, talvez com exceção do medo, todas essas emoções também eram transmitidas pelos curtas – a simpatia pelo governo graças aos personagens bonitinhos e inocentes da Disney, o orgulho de ser um americano livre, democrata e patriota e o ódio pelos nazistas. Segundo o filme, a emoção (caracterizada por um homem das cavernas, em contraposição à razão representada por um homem de negócios) deveria ser uma emoção que “ama o seu país, sua liberdade, sua vida”, e deveria não ser desprezada, mas controlada pela razão.

Os dois curtas mais conhecidos e polêmicos, no entanto, são Der Fueher's face, vencedor do Oscar de melhor curta em 43, e Education for death. Ambos foram censurados, depois da guerra, pelo próprio Walt Disney, que disse que não seriam mais relançados (a maioria dos curtas tem hoje em dia no YouTube, mas creio que eles só foram lançados ao público em DVD com a coleção Disney Treasures. A série, que traz várias animações clássicas, não foi lançada completa no Brasil, e o volume Disney On the Front Lines, que fala sobre os curtas de guerra, foi um dos que ficou de fora). O primeiro traz o Pato Donald como trabalhador de uma fábrica nazista de munições, controlado o tempo todo por militares. Os nazistas são caracterizados de forma deformada, sendo muito altos, magros ou gordos, e, no cenário, muitos elementos têm a forma da suástica: postes, árvores, números do relógio. Isso passa a ideia de que os alemães viviam num ambiente onde o nazismo estava sempre presente, o que é reforçado pela saudação “Heil, Hitler”, repetida exaustivamente pelos nazistas, por Donald (que saúda Hitler até dormindo), pelo seu relógio cuco, que tem, literalmente, “the Fueher’s face”, e pela música que perpassa o filme inteiro e repete o verso “So we heil, heil...”. O eco da saudação, combinado ao trabalho em ritmo alucinante, deixam Donald maluco. Interpretando, podemos pensar que, segundo a visão do filme, apenas loucos compactuariam com essa política nazista.

Algumas partes de Der Fueher Face mostram situações extremas para gerar humor e repulsa ao mesmo tempo, como na fala “Que privilégio vocês têm em ser nazistas, por trabalharem 48 horas por dia para o Fueher!”. Outro momento em que a crítica antinazista é muito forte é num trecho da música: “Quando o Fueher diz: nós nunca seremos escravos!/ Nós saudamos, saudamos, mas ainda trabalhamos como escravos/ Enquanto o Fueher pragueja e mente e grita e fica furioso/ Nós saudamos, saudamos e trabalhamos para os nossos túmulos”. Assim como a maioria dos curtas produzidos nessa época, Der Fueher face termina de um jeito patriótico: Donald acorda, percebendo que era apenas um pesadelo e, vestido num pijama estampado com a bandeira dos EUA, beija uma miniatura da Estátua da Liberdade. Em seguida, aparece o rosto de Hitler no centro da tela e um tomate é jogado em sua cara – impossível ser mais explícito.



Education for death, por outro lado, tem um tom bem mais sério e não possui nenhum personagem da Disney. O curta mostra a trajetória de um menino alemão, Hans, desde o seu nascimento até a morte, passando por toda a sua educação nos moldes nazistas. Num exemplo altamente irônico de como o garoto seria educado, o narrador diz que os contos de fada foram distorcidos e que Hans aprendeu que a bruxa má da Bela Adormecida era a democracia, a princesa era a Alemanha (representada por uma mulher viking, gorda e bêbada) e o príncipe era Hitler. Segundo o narrador, “a distorção desse conto tem o propósito de moldar a jovem mente nazista”. Assim como no curta Reason and Emotion, no entanto, o que não se evidencia é que a própria Disney estava moldando a mente das crianças e dos adultos, não só estadunidenses, mas de todos que assistiam seus filmes. De certa forma, muito do que a Disney, representando os EUA, criticava, o próprio país fazia de maneira bastante similar.

Na escola, Hans aprende que os fracos e covardes devem ser exterminados, que os alemães são "a raça superior" e que todas as outras "raças" serão escravizadas. Para causar horror num país de maioria protestante, a bíblia se transforma em Mein Kampf e a cruz de Cristo se transforma em uma espada com a suástica. Hans é visto como um ser bestializado, com tampões em seus olhos para não ver além do que está à sua frente, com um instrumento em sua boca que não permite que ele fale “nada que o partido não queira” e com correntes que o ligam aos outros militares. O filme termina com o narrador dizendo que Hans e seus camaradas marcham sobre os direitos dos outros e que a educação de Hans está completa: sua educação para a morte (assim, os soldados marchando se transformam em túmulos). Apesar de toda essa “demonização” dos nazistas, em momento algum Hans ou os outros soldados são colocados como seres intrinsecamente maus ou como culpados de suas próprias condições – eles são as vítimas da lavagem cerebral arquitetada pelos seus superiores, em especial por Hitler.

Mesmo com toda essa propaganda antinazista da Disney, existem fatos que sugerem que Hitler e Mussolini seriam fãs dos filmes da empresa – pelo menos até serem feitos curtas que os ridicularizavam. Segundo o jornal Der Spiegel on-line, teriam sido encontradas aquarelas de personagens da Disney dentro de um quadro que pertencia a Hitler. Além disso, o ditador alemão possuía um exemplar de Branca de Neve e os Sete Anões e teria ganhado de Goebbels 12 animações do Mickey, o que, de acordo com Natania Nogueira, do blog Gibiteca.com, “teria inspirado Hitler a criar uma produtora de desenhos animados para servir aos propósitos de seu regime ditatorial”. Em Nimbus Libéré, sombrio curta produzido pela Alemanha para ser exibido na França de Vichy, Pateta, Mickey, Donald, Popeye e Gato Félix aparecem em aviões estadunidenses bombardeando a população civil francesa, que espera que a ajuda chegue desses mesmos aviões.

Segundo Henry Giroux, autor de A Disneyzação da cultura infantil, o conhecimento, os valores, e a construção do cidadão não estão apenas nas escolas ou nos locais privilegiados da alta cultura, e as identidades individuais e coletivas das crianças e jovens são amplamente moldadas política e pedagogicamente. A Disney, indubitavelmente, transmite valores e molda as mentes, não só dos mais jovens, como dos adultos também. Giroux defende, além disso, que a Disney “promove a construção de um mundo fechado e total de encantamento, pretensamente livre da dinâmica da ideologia, da política e do poder”. No entanto, observa-se justamente o oposto nos curtas analisados: a ideologia, a política e o poder são explicitamente tratados nos filmes. Jogar um tomate na cara do inimigo ou mostrar o rato mais querido da América como um nobre soldado (o que acontece em Out of the frying pan into the firing line), me parece bastante explícito. O que é mais evidente, no entanto, é que, indubitavelmente, a produção da Disney na década de 40 foi altamente influenciada pela 2ª Guerra Mundial. Seja através de Mickey como soldado, de Donald como um pagador de impostos ou mesmo de Minnie como a dona-de-casa que guarda a gordura da frigideira, um ponto fica claro: Disney, definitivamente, foi à guerra.

segunda-feira, 21 de abril de 2014

Kipi cáumi e deixa de recalque

Eu fico meio espantada com a quantidade de páginas no Facebook que estimulam uma zoação de mau gosto às custas de um sentimento que, acreditem, não é nada engraçado: a inveja. A maioria das pessoas só pensa nas "inimigas" (como são chamadas as supostas invejosas) como uma espécie de vampiras sugadoras de energias positivas ou algo assim. Enquanto as invejadas costumam sair como as vítimas da história, as "invejosas" ou "recalcadas" são queimadas em posts e em letras de funk.

Vem cá com a tia, vamos pensar um pouquinho. Eu acho que ninguém que sente inveja sente porque acha legal, e ninguém sente de propósito pra irritar uma pessoa de que não gosta - ou até de que gosta! Quantas vezes você não sentiu inveja de um amigo ou parente a quem ama muito? Pode assumir! Eu acho que todo mundo divide a inveja em dois tipos: uma "boa" (ou "não destrutiva", a famosa "inveja branca") e uma ruim. Vamos exemplificar: a boa é o que você sentiria se a sua melhor amiga fosse viajar pro seu destino dos sonhos. Você fica muito feliz por ela, é claro, mas sente uma invejinha por querer ir pra lá também. A ruim, por outro lado, seria o que você sentiria se aquela pessoa de quem você não gosta vai pra esse seu paraíso na Terra. Exemplo bem idiotinha que imagino que todo mundo já devia ter em mente, mas enfim.

A maioria das pessoas não tem problemas com essa "inveja branca", até mesmo porque ela geralmente é uma coisa específica: uma blusa, uma viagem, seu cabelo, essas coisas. O problema é a inveja ruim (ok, estou chovendo no molhado até agora, mas já estou chegando no ponto). Muitas pessoas acreditam em energias negativas que a pessoa invejosa carrega e coisas assim, mas não acredito muito nisso. Se existirem, acho que elas prejudicam mais quem sente a inveja do que o invejado em si. E isso me leva - finalmente! - ao meu ponto principal: quem sofre com a inveja é sempre o invejoso.

A inveja é um sentimento que pode ser extremamente autodestrutivo. Creio que uma inveja negativa - obsessiva, degenerativa - seja fruto de uma baixa autoestima, e acho que isso é uma das piores coisas com que alguém pode ter que conviver. A inveja reforça sua baixa autoestima e, principalmente quando você sente raiva do invejado, você sente mais raiva de si mesmo. A inveja é, para mim, um discurso de ódio a si próprio, em última instância. Para quem já viu isso que estou falando bem de pertinho, isso não me parece nenhum exagero.

Não quero salvar o mundo nem resolver todos os problemas da humanidade, mas, se eu puder deixar algum conselho pra possíveis leitores desse texto, digo que procurem ajudar quem vocês perceberem que podem sentir essa inveja autodestrutiva. Como a inveja é provavelmente o sentimento mais reprimido na nossa sociedade - já pararam pra pensar nisso? -, acho difícil encontrar alguém nitidamente invejoso. Se não puder fazer nada diretamente para alguém, acho que pelo menos todos nós podemos parar mandar recadinhos maldosos pras "recalcadas de plantão".

Por último: quem tiver se identificado com essa inveja destrutiva deve procurar alguma ajuda. Um amigo em quem confia, um terapeuta, um diário, qualquer coisa. Vamos colocar "Beautiful", da Christina Aguilera pra tocar e vamos aumentar essa autoestima (estou me sentindo professora de academia dizendo isso). Keep calm, queridos, e deixem de recalque ;) 


sábado, 19 de abril de 2014

Don't judge a book by its cover

Rodando aí pela internet, percebi que a maioria dos posts sobre livros envolvem belas fotos cults do livro que está sendo resenhado. Muitas vezes, nem está sendo resenhado, só está sendo belamente exposto como um belo livro com uma bela capa numa bela fotografia. Até aí, nenhum problema. Acho lindas as fotos de alguns blogs, e elas definitivamente são um eficaz meio de propaganda. A questão é que esses livros que são expostos pela capa e não pelo que tem dentro acabam sendo uma metáfora para outras coisas que vemos na vida.


Numa era instagrâmica e facebookiana, onde tudo é feito para ser visto e aprovado pelo outro, é comum que as editoras tenham mais preocupação com o visual dos livros lançados. Algumas capas são verdadeiras obras de arte: as minhas favoritas são as da Intrínseca e da Zahar; a Record e a Rocco acertam em umas e erram em outras; a CosacNaify traz um conceito diferente e faz o leitor experienciar a leitura de uma forma única (em "A Fera na Selva", de Henry James, por exemplo, as páginas vão escurecendo à medida que o leitor espera um possível clímax para a história).

Mas não é a mesma história em qualquer edição?

Se a versão não for adaptada e se não houver uma diferença muito gritante nas traduções, a história é sim a mesma. Qual é o problema de ter um livro "feio" então?

Não quero parecer hipócrita de forma alguma. Eu tenho vários livros lindos (ainda farei um post mostrando eles!) que ficam embelezando a minha estante e, sempre que vou procurar algum livro pra comprar, tento escolher o mais bonito, se a diferença de preço não for muito grande. No entanto, também tenho muitos livros "feios": velhos, com capas sem graça ou feiosas mesmo, emendados com durex... E muitos deles foram alguns dos melhores livros que já li na minha vida. A primeira vez que li 'O morro dos ventos uivantes"  numa edição não adaptada, me defrontei com um livro nada atrativo: pequeno, de letra miúda, velho, com uma pintura horrorosa na capa... E está no meu Top 5 até hoje. O mesmo acontece com "O apanhador no campo de centeio". A capa da minha edição é a coisa mais sem graça ever made na história das capas de livro: fundo cinza com letras amarelas. Sem desenho, sem orelha, sem contracapa, sem informações sobre o autor, sem nada, e isso não fez a menor diferença na minha reação quando li a história de Holden Caufield.

Tenho plena consciência de que livros hoje em dia são também objetos de decoração e, de novo, não vejo nada errado em serem. No entanto, sem querer parecer uma velha purista e nostálgica (mas já parecendo), acho que devemos sempre lembrar da primeira função dos livros: nos transmitirem o que está dentro deles, não o que está fora. Que haja muito espaço nas nossas prateleiras para exibirmos os livros bonitos, mas que também sempre haja lugar em nossos corações para os feiosos e imperfeitos.

E que isso não sirva só para os livros, viu? ;)


Para fechar, duas fotos de livros feios que eu adoro!


Capa horrorosa do primeiro livro que comprei do meu autor favorito <3

Provavelmente, a pior capa que tenho num dos mais brilhantes livros que já li

sexta-feira, 18 de abril de 2014

"Hoje eu quero voltar sozinho"

Depois de um mês e meio sem postar devido a problemas com a internet, estou de volta :D

Minha dica de hoje é sobre um filme maravilhoso! Fui essa semana ver o premiado "Hoje eu quero voltar sozinho", dirigido por Daniel Ribeiro, e me apaixonei completamente! Baseado no curta "Hoje eu não quero voltar sozinho", o filme conta a história de Léo (Guilherme Lobo), um adolescente cego que busca independência dos pais, ao mesmo tempo que se lida com sua primeira paixão. Antes de ser um filme gay, "Hoje eu quero voltar sozinho" é uma história de amor - infinitamente melhor que qualquer Nicholas Sparks, diga-se de passagem. A história é simples; o filme é singelo, delicado, sutil. Sem dúvida nenhuma, um dos filmes mais bonitos que vi EVER. 


Além da fofura extrema da história em si, a trilha sonora é tão incrível quanto o filme. No curta, a música principal é "Janta", do Marcelo Camelo com a Mallu Magalhães. No filme, é a linda "There's too much love", da banda escocesa Belle & Sebastian, que embala o romance de Léo e Gabriel (Fábio Audi).


O filme está em cartaz nas seguintes cidades:


Quem quiser mais informações, visite a página do filme no Facebook :)

domingo, 9 de março de 2014

Dica do dia: Quem disse, Berenice?

Olá, queridxs!

Vim aqui falar com vocês sobre a minha primeira experiência de compra na loja-fofura Quem disse, Berenice?. Ontem, dia 8 de março, dia internacional da mulher, a lojinha estava com desconto de 50% em todos os batons vermelhos, e, como eu não tinha nenhum, decidi aproveitar a promoção :D Acabei não resistindo e me apaixonei por um pincelzinho também!

A loja é muito fofa por dentro e as vendedoras são atenciosas, mas não daquele jeito que ficam em cima de você desesperada e irritantemente. Como o que importa aqui no blog é o preço, eu gostei ainda mais da marca por isso! O preço é justo e, mesmo que você não tenha muita grana pra comprar, vale a pena ficar de olho na lojinha virtual da marca, onde sempre acontecem promoções e descontos.

O batom saiu a R$ 11,95 e o pincel a R$ 23,90

 Detalhe da tampa: um coração que forma um "B" de "Berenice"!


Ele parece laranja por causa do flash, mas ele é bem vermelhinho! 
Me apaixonei pelo detalhe do "Se joga"! 


Uma amiga disse que ele parece um daqueles minions do mal, do "Meu Malvado Favorito 2" hahaha 

Vocês não têm noção de como a textura desse pincel é fofa! 
Parece que você está passando blush com pelo de gato :P

Então é isso! Depois posto aqui uma foto usando o batom novo :)

sábado, 8 de março de 2014

Livros baratos - Parte 1: Skoob

Olá, queridxs! Tudo bem?

Há muito tempo eu ouço que os livros no Brasil são caros. 12 anos de experiência como ávida leitora, no entanto, me dizem que o livro é caro se você não sabe onde procurar. Para dividir com vocês os meus achados e as minhas dicas, criei esse post, que será divido em algumas partes. Hoje falarei um pouquinho sobre o Skoob.



Para quem não conhece, o Skoob é uma rede social voltada para leitores. Além de poder estabelecer amizades com pessoas com um gosto literário parecido com o seu, você pode organizar sua "estante virtual" entre os livros que você tem, deseja, já leu, vai ler, abandonou e quer trocar - e é aqui que a magia começa!

Muita gente me pergunta se é confiável, como sei que não vou levar calote e tal. Bem, eu já recebi quase 60 livros através de trocas no Skoob e nunca tive problemas com os usuários do site, apenas com os Correios - dois livros foram perdidos e dois voltaram para o remetente, que me enviaram de novo. Se você tem dúvidas sobre a confiabilidade das pessoas, aqui vão algumas dicas para não se dar mal:

1. Entre nas comunidades anticalote do Skoob. Lá sempre tem uma lista atualizada do nome dos caloteiros.
2. Se você nunca trocou com ninguém, não se assuste se a pessoa com quem você estiver trocando pedir para você mandar o seu livro primeiro. É uma prática bem comum! Se você achar arriscado fazer a sua primeira troca com alguém sem referências - ou seja, com alguém que nunca trocou nenhum livro -, procure alguém que já tenha uma "reputação" :)
3. Peça SEMPRE o código de rastreio do produto. Ao enviar o livro pelo correio, você receberá na nota fiscal um código que geralmente começa com "RE" e termina com "BR". Jogue esse código no site dos correios, na parte de rastreamento, e acompanhe online o trajeto do produto até a sua casa ou até a casa do destinatário.

Existem duas formas de trocar livros pelo Skoob: a chamada troca "livro X livro", ou "1 X 1", que é quando você envia um livro pra uma pessoa e a pessoa te envia um livro dela, e a troca pela ferramenta Plus, que é quando você troca um livro por 1 ou 2 créditos. Com esses créditos, você poderá solicitar outros livros, não necessariamente com a mesma pessoa que te solicitou o livro. Cada jeito tem suas vantagens, mas para quem prefere mais segurança, recomendo o Plus: você pode ver avaliações e comentários de outras pessoas sobre aquele usuário, e ele só receberá o crédito quando você marcar o livro como recebido.

E quanto eu vou pagar? Bem, tudo depende do peso do livro e da distância que o livro vai percorrer até o lugar de destino. Em 3 anos de trocas de livros, no entanto, eu só paguei mais de 10 reais uma vez, em um livro da Rosamunde Pilcher ENOOOOORME - mais de 1000 páginas. O comum é ficar entre 4 e 8 reais. Para isso, você deve enviar o seu livro por "Registro Módico", uma modalidade de envio para CDs, DVDs e livros.

Várias pessoas acham que no Skoob só tem livros clássicos para troca: enganam-se. Já consegui, inclusive, livros bem raros, como "Nascido em um dia azul", esgotado em todas as livrarias e sebos, e "Cloud Atlas", livro que deu origem ao filme "A viagem". Fora isso, já consegui vários best sellers, como "Em Chamas", "A Esperança" e vários livros do John Green e da J. K. Rowling. As fotos abaixo são só de livros que troquei por lá! (Perdoem-me pela qualidade das fotos, tirei de noite e a luz não favoreceu muito.)




Bem, é isso! Espero que tenham gostado e se animado a trocar no Skoob! Quem tiver qualquer dúvida, sinta-se à vontade para perguntar nos comentários :D

Beijocas e até a próxima!

quarta-feira, 5 de março de 2014

As minhas vendas!

Olá, queridxs! Tudo bom?

Vou mostrar aqui hoje algumas das minhas Melissas que estão à venda :)

1. Mary Jane Croco + Vivienne Westwood n. 37

Um modelo bonequinha super fofo, super confortável e que deixa o pé bem firme. Sou do tipo que parece um pirata bêbado andando de salto, mas consegui andar bem direitinho com essa Mary Jane! Eu troquei com uma menina pelo Facebook, mas ficou muito apertadinha. Foi usada apenas uma vez pela antiga dona, eu usei só em casa mesmo para experimentar. 

No Enjoei, estou vendendo por 135 + frete, mas quem quiser comprar por aqui, vendo por 100 + frete!




2. Melissa Lady Dragon + Jason Wu n. 38

Comprei num brechó, mas ela ficou larga. Ela está usada, mas em bom estado. Tem duas manchinhas e o lacinho está descascando. Por 65 + frete no Enjoei e por 50 + frete aqui!






3. Melissa Rock Princess + O Pequeno Príncipe n. 38

Essa eu comprei na loja e só andei em casa com ela, mas não me adaptei a ela. É linda e cheia de detalhes! Por 90 + frete no Enjoei, por 75 + frete aqui!







4. Melissa Scarfun High + Alexandre Herchcovitch n. 37

Comprei num brechó também. Vendendo porque ficou apertada, cabe melhor num pé 36. Por 30 + frete no Enjoei, por 20 + frete aqui!





E para quem quiser conhecer as outras peças da minha lojinha no Enjoei, é só clicar aqui! E quem tiver perfis de venda, pode colocar nos comentários também!

Beijos e até a próxima!