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quinta-feira, 1 de maio de 2014

Allen Ginsberg


Quando eu estava no 3º ano do ensino médio, meu professor de literatura passou um filme do Buñuel para vermos, provalvemente “Um cão Andaluz”. Obviamente nós, jovenzinhos de inteligência mediana entre 16 e 18 anos, não entendemos patavinas. Quando o professor perguntou se eu tinha gostado do filme, respondi que não tinha entendido, e que não tinha como gostar de algo que eu não tinha entendido. Hoje, 5 anos depois, vejo que eu estava enganada. Tem sim como gostar de algo que não se entende, e a minha prova pessoal disso é Allen Ginsberg.




Ginsberg é um poeta da beat generation, mais famoso pelo poema “Howl” – “Uivo” (que começa com o verso “I saw the best minds of my generation destroyed by madness” – “Eu vi as melhores mentes da minha geração serem destruídas pela loucura”. Lana del Rey usa trechos desse poema no seu vídeo “Tropico”). Acho – e isso é inteiramente uma impressão que eu tenho – que o Ginsberg é um pouco ofuscado pelos outros expoentes da beat generation, Jack Kerouac, William Burroughs e Charles Bukowski - sendo que o Bukowski nem é “oficialmente” considerado "membro" da BG. Enfim.



Acho que só o Ginsberg entendeu 100% de Howl, se é que ele entendeu. Mesmo entendendo apenas palavras e frases esparsas, esse é, sem dúvida, um dos meus poemas preferidos. É como ouvir uma música num idioma que você não domina, por exemplo. Você sente algum clima, algum “mood”. Sabe aquela coisa – brega, eu sei – de que você tem que sentir a poesia? É isso que sinto com Howl: eu sinto Howl. Parece que o poema fala com uma parte de mim que é além da compreensão racional, além do que é decodificado.

Howl tem uma estrutura paralelística, com versos se referindo sempre ao mesmo sujeito – the best minds of his generation –, o que dá uma ideia de continuidade e unidade. Em outras palavras, Howl faz com que tudo de que fala seja relacionado: loucura, sobrevidas, jazz, pessoas vivendo à margem, pessoas vivendo no sistema, o sistema em si (personificado como Moloch, uma figura maligna), suicídio, máquinas, a noite, luzes (sou meio obcecada com a arte falando de luzes. A supracitada Lana também é ;) Talvez uma das minhas frases preferidas ever seja um trecho de “There is a light that never goes out”, do The Smiths, que diz “Take me out tonight, ‘cause I want to see people and I want to see lights”). Howl fala de um “lado B” de tudo.

Ginsberg ficou 8 meses numa instituição psiquiátrica, aos 21 anos, onde conheceu Carl Solomon (para quem dedica o poema). Ele diz que, ao contrário de Solomon, não recebeu terapia de choque ou remédios porque ele prometeu ao médico responsável que ele “se tornaria heterossexual”. A relação de Ginsberg com a loucura vai ainda mais fundo: ele viu sua mãe entrar e sair de instituições psiquiátricas desde que tinha 6 anos de idade.

Tirando uma selfie hipster no espelho ;)
Johnny Depp e Ginsberg, 1994

Peter Orlovsky e Ginsberg. Os dois ficaram juntos por mais de 30 anos.


Para quem se interessar pelo poeta ou pelo poema, há um filme chamado “Howl”, em que James Franco interpreta Ginsberg (muito difícil de encontrar, mas vale a pena tentar), e há também "Kill your darlings", em que ninguém menos que Daniel Radcliffe – sim, leitorxs, o Harry Potter – interpreta Ginsberg. Procure também o curta em animação que é parte do filme com Franco, e a graphic novel, que já foi traduzida e é bem fácil de encontrar. Seus poemas estão praticamente todos na internet e, se vocês quiserem ler "Howl", é só clicar aqui.

Para fechar, minha frase preferida de Ginsberg:

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